terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

pequenas narrativas cotidianas (parte III)

"nº 07"

Hoje acordei pra ninguém. Nunca me senti assim, sabendo que nem mesmo você me fará feliz. Todo mundo tem um dia ruim. Quando as expectativas vão ao chão “I’m just going home! I’m falling down!” o carro parece um refúgio, o sangue parece brilhar.

"nº 08"

A vida desse homem rústico foi sempre como um qualquer ganido impronunciável, intocável, indomável, imperdoável. De seus problemas fez sua alma, e talhou em carne sua própria Esparta.

"nº 09"

Duas noites sem sono e se olha no espelho uma primeira vez antes da noturnina que se aproxima. Não há mais nenhum passo a dar, nenhuma dor possível, e pede perdão aos dias pelo que foi. O peso da incerteza que antes não existia. Largando os ombros, fixa a estrada já tão limpa de rastros seus, sem mais linhas vermelhas deixando pistas, e a liberdade o sufoca como um gole de seu próprio sangue.

"nº 10"

O homem chato arria as calças, desabotoa a camisa, deita. Por trás dos óculos esconde uma incerteza que não tem tamanho, bem maior do que as pupilas sempre em riste para a crítica podem comportar. Não se desfaz do bigode, desanima qualquer tentativa. O homem chato é sozinho, e diz preferir isso. Mas nessas horas de fim de noite, no quarto, finge pensar em outras coisas.

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