sábado, 8 de agosto de 2009

Cães em chamas


Verdade seja dita: existem certos tipos de música, certos estilos, que pedem um determinando momento para serem apreciados em sua totalidade sensitiva. Nada como ouvir um surf music enquanto se está preparando para fatiar um desgraçado (créditos ao Tarantino), ou um sambinha pra tomar uma gelada. Música experimental/instrumental para passear com o cachorro, blues para as horas de, vocês sabem, mais "intimidade" do casal... etc. etc. etc. Enfim, o caso é que todos esses estilos, e vários outros, têm seus significados aguçados quando ouvidos em determinados contextos, soando assim de maneira mais autêntica, chegando à perfeição sinestésica, se é que dá pra ser.

Bem, existe também um estilo de música que satisfaz os pés de um motorista queimando pneu nas estradas. Aquele que transforma os nós dos dedos do piloto em rangido puro, o som do asfalto quente, do dorso cinza do continente: o rock'n'roll. Aquele que sempre toca em filme de caminhoneiro, que deixa as mulheres expostas em roupas minúsculas, que faz até o maior nerd se transfomar num junk maluco, como um bando de cachorros pegando fogo. E esse é justamente o nome da banda de que venho lhes falar nessa madrugada insône: Flaming Dogs.

Banda de Natal, terra do sol, e o clima não poderia ser mais propício: calor forte no lombo dos cães. Um quarteto que se propõe a fazer um bom rock regado à influências que vão das mais clássicas, como Stones e Hendrix, às mais recentes, como Hellacopters. Se propões, e cumprem. Domando suas cordas da maneira mais qualificada, aos gritos e berros, o Flaming Dogs apresenta um som muito criativo, cheio de reviravoltas melódicas, harmônicas e rítmicas. Riffs que se combinam e desconbinam no decorrer das músicas, melodias que nos fazem querer estar num carro a toda pelas estradas empoeiradas e esburacadas do RN, rock pra dirigir, são os elementos principais desses caras. Isso sem falar na bateria que tem todo um toque setentista. Viradas muito bem executas, mudanças de ritmo que te deixam aturdido (às vezes você até pensa que está tudo saindo errado, mas não...), e uma precisão nas marcações... realmente uma beleza. Se ouvidos com calma, em casa, facilmente é percebida a diversidade imaginativa das melodias dos cachorros inflamados (assim o nome soa meio infame, ein! hahah). Tudo bem afinadinho e des/organizado para dar o tom certo de barulho que se deseja.

No palco, a destruição pede passagem a galope. Destaque para Leo, um dos guitarristas, e para Fábio, o maquinado na bateria, que são pilhas nas apresentações. Pulos, baquetas que voam, pratos espancados. Se na gravação não se consegue perceber tanto esse espírito noise da banda, ao vivo ele se apresenta de maneira categórica. Uma banda barulhenta, mas com uma qualidade ressaltada.

Música para se ouvir na estrada, num toca fitas velho. Som para tocar num incêndio.

Deixando de lado o único ponto que considero negativo, que é o vocal meio Metallica (cheio de yeaaah), as músicas do Flaming Dogs provam que o teor qualitativo dos músicos potiguares continua em alta.

Que continuem então se apresentando nas noites litorâneas da cidade do morro descabelado, fazendo seu rock'n'roll, fazendo com que as chamas sonoras fiquem cada mais altas. Se ainda não se pode ouvir num carro pelas estradas, pelo menos nas trilhas da mesa de som é possível. Então que assim seja... que se quimem os cachorros (mas só de maneira figurada, que ninguém aqui é babaca para atear fogo num coitado de um cãozinho, não é mesmo criancinhas?!).